sábado, 13 de setembro de 2014

 "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim". Galatas 2. 20

Na cruz nos encontramos com Cristo, assim nos encontramos com a nova vida em Cristo, nos encontramos com a fé em Cristo e nos encontramos com o amor de Cristo.
Nessa perspectiva, está claro que a nossa vida não é possessão nossa e sim de Cristo. Nossa fé nos leva a confiar totalmente em nELE, sabendo que o que somos se deve ao Seu amor que O levou à Cruz,  onde nos encontramos com Ele.
Assim, nossas vidas são direccionadas por Cristo a serví-LO em diferentes âmbitos,  dando - nos vocação,  dons e talentos (alguns em altos escalões e recursos e outros na mais profunda simplicidade de vida) para o cumprimento da Sua missão, sempre com as marcas de Seu amor.
E importante estar sempre consciente de que no cumprimento da missão não cabem as obras da carne e sim o fruto do Espirito. Nossas atitudes não podem parecer - se jamais com o que praticam os que estão mas trevas para alcançar seus objetivos. Nossas "paixões" devem ser crucificadas em Cristo.
Na obra do Senhor jamais deve estar presente a mentira, seja ela chamada mentira piedosa ou meia verdade, nem os jogos de poder e nunca se justifica "sacrificar" alguns para que o propósito final de um projeto seja alcançado.  Cristo se sacrificou "pessoalmente" por nós e não escolheu sacrificar a outros em Seu lugar para que Sua missão fosse cumprida, mas o que muitas vezes se vê no "empresariado eclesiastico" é a desonesta eliminação de algumas "peças", frequentemente irmãos sérios e piedosos, para que o objetivo traçado sem a devida ética e respeito seja alcançado, comumente conhecido como perdas necessárias ao longo do caminho. Por esse motivo nos encontramos tanta gente magoada e decepcionada no ambiente eclesiástico.
Que o Senhor nos fortaleça e nos faça perseverar com fidelidade na vida que é Sua e não nossa, seja no âmbito individual ou coletivo,  pois em tudo somos Sua Igreja.

"Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia,  a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.  Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.  a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.  E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.  Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. Não nos tornemos vangloriosos, provocando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros. Galatas 5. 19-26


terça-feira, 6 de maio de 2014

A EUROPA PROFUNDA
"Espanha profunda" é uma expressão muito usada na Espanha para definir ou tentar explicar muitas coisas estranhas que ainda ocorrem nas milhares de pequenas cidades e povoados do interior. É uma expressão que poderia ser ampliada a todo o continente.
Através do livro transformado em filme (1969), "O segredo de Santa Vittoria", comedia ambientada na Italia por ocasião da morte de Mussolini, protagonizada por Antony Quinn, nos encontramos com uma fiel descrição dessa Europa profunda,  nesse caso Itália.
Morre Mussolini e a cidade perde seus governantes fascistas que são levados à prisão.  Um ex-bajulador do fascismo (não por convicção mas por conveniencia), acostumado a embriagar--se, sobe na caixa d'agua do vilarejo e ao ser salvo por seu genro é aclamado pelo povo (que na verdade estava tentando animá-lo para ter coragem para descer) e acaba por ser aclamado novo prefeito.
Passados alguns dias chega a notícia de que os alemães estavam vindo à cidade para levar todo o estoque de vinho que mantinha vivo o povoado, um milhão e trezentas mil garrafas. Toda a história transcorre entre hilarias estratégias de um povo acostumado a brigar entre si mas que agora se une no propósito de enganar aos alemães.
Entre risadas e romantismo (o prefeito e sua mulher se odiavam, por causa das bebedeiras do senhor edil) nos deparamos com os fundamentos que lidamos, como missionários,  nestas pequenas cidades e povoados espanhóis e europeus.
Santa Victtoria na verdade elucida a capa que os turistas e recém chegados na Europa conhecem. O povo mostra o que é mais conveniente, uma típica tradição de uma Europa que se acostumou a viver sob dominadores,  como romanos, bárbaros,  árabes ou ditadores.
Os mais antigos dizem que ao viver aqui menos de una década, o que se conhece da Europa é a cortina de fumaça e não sua essência.
Há 12 anos,  as estatísticas falavam em 500 mil evangélicos espanhóis e na última estatistica divulgada,  apesar dos cinco milhões de imigrantes que chegaram enchendo as igrejas, avançamos a um pouco mais de 400 mil. Isso se deve a essa característica, de um povo simpático mas com seu mundo interior totalmente blindado.
Olhar para Cristo (Filipenses 2. 5-11) e ver sua identificação conosco para trazer-nos a salvação,  nos consola e anima. Pedimos que o Senhor nos faça perseverantes para ser Seus instrumentos no alcance da "Europa profunda".

sábado, 19 de abril de 2014

Existe pobreza e fome na Europa?

Conta-se que uns jornalistas perguntaram a um governante europeu sobre como erradicar a pobreza e a fome. Para surpresa de todos, sua resposta foi uma irônica pergunta: que é pobreza e o que é fome?

Na verdade essa história não passa de um mito disseminado especialmente nos países do terceiro mundo, porque a Europa tem muita pobreza e muita gente está classificada nos  parâmetros da fome. A ausência de violência e mendigos pelas ruas de muitos países europeus ajuda na divulgação desse mito.

O pobre europeu está localizado nos países periféricos do leste, nos bairros ciganos ou de maioria imigrante, em redutos de prostituição e drogas e em alguns centros antigos das grandes e famosas  cidades e a fome se encontra em meio a esses pobres.

A Europa vem de uma tradição feudal, para não dizer que vive uma forma de feudalismo moderno, claramente representado por um fascismo político, sempre atual, principalmente em épocas eleitorais.

Nesse sistema, o pobre tem uma função servil e secundária,  sempre escondido como um inocente útil,  valioso para a manutenção das classes empresariais e calado pela opressão dos poderes. O clima frio ajuda a tapar ou maquiar essa pobreza, já que todos estão vestidos e bem cobertos, aparentando o que realmente não são.

A fome leva a muitas dessas famílias a secretamente buscar ajuda em centros sociais,  tudo mantido sob bastante sigilo.   O orgulho de alguém que estudou pelo menos até os 16 anos (por obrigação imposta por lei) e que se sente capacitado a  debater sobre história e política, se transforma em mais um instrumento de disfarce da pobreza.  Uma pessoa tão culta não é pobre, é alguém sem oportunidades, dizem muitos.

No livro "Os miseraveis", Victor Hugo joga com a palavra "miserável",  usando-a para os políticos inescrupulosos, para os bajuladores e opressores de segundo escalão (servis aos poderosos), tambem aos pareas marginados moral e judicialmente (chamados escoria) e finalmente para os pobres e famintos, estes sim submetidos à uma miserabilidade concreta, porque não podem trabalhar (por mecanismos proibitivos estruturais) e por isso mendigam,  não com pratos na mão mas com direito a ajudas  inventadas pelos governos para que se mantenham sempre dependentes.

Algumas vezes os miseraveis europeus se cansam e se levantam,  como disse George Orwell, no livro "Revolução dos porcos", até se tornarem opressores, deixando a outros a classificação de pobres miseráveis, pois eles agora são os algozes miseráveis,  havendo sido em algúm momento traidores miseráveis.

As grandes empresas européias são instrumentos poderosos de exploração da pobreza ao redor do mundo,  mas não para levar riqueza e desenvolvimento a Europa, na verdade  buscam produzir poder para sua classe aristocrática e egolátrica, pois os primeiros a serem explorados são os seus próprios conterrâneos.

Sim, há pobres e famintos na Europa, mas não podem ser vistos,  pois assim a Europa perderia sua magia e o resto do mundo descobriria que todos de fato desejam tornar-se europeus, não pela heranca genética, pela beleza ou pela cultura, mas pela hipocrisia.

Que o Senhor nos dê sabedoria para pregar a Cristo, adorando-Lhe, servindo-Lhe, socorrendo aos pobres e desmascarando aos hipócritas.

Marcos 14.3  Estando ele em Betânia, reclinado à mesa em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro cheio de bálsamo de nardo puro, de grande preço; e, quebrando o vaso, derramou-lhe sobre a cabeça o bálsamo.
 4  Mas alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício do bálsamo?
 5  Pois podia ser vendido por mais de trezentos denários que se dariam aos pobres. E bramavam contra ela.
 6  Jesus, porém, disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou uma boa ação para comigo.
 7  Porquanto os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; a mim, porém, nem sempre me tendes.
 8  ela fez o que pode; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.
 9  Em verdade vos digo que, em todo o mundo, onde quer que for pregado o evangelho, também o que ela fez será contado para memória sua.
 10  Então Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes para lhes entregar Jesus.

sábado, 15 de março de 2014

A ESPANHA BIPOLAR
 Evangelizando em um contexto de extremos.

Se costuma dizer que na Espanha uma pessoa tem que escolher entre o Real Madrid e o Barcelona, a direita política ou a esquerda, aplaudir as classes nobres ou ser um anarquista, seguir a igreja Católica ou o ateísmo. Se diz que quem não se define é diplomático (uma forma popular de chamar alguém de falso), estrangeiro, inseguro e essas características não representam o verdadeiro espanhol.

O evangelismo significa entrar na intimidade da pessoa e sem conhecer o caráter geral que move os diálogos e pensamentos do povo espanhol, muitas vezes quando pensamos que estamos evangelizando, na verdade somente estamos alimentando a característica especulativa de um povo que segundo John Mackay, em seu livro “O outro Cristo espanhol”, se diverte debatendo sem nunca chegar a uma conclusão.

A bipolaridade espanhola representa o raciocínio e sentimento geral da nação.

A imagem que se deseja apresentar ao mundo é de grandeza, riqueza, poder e glamour. As grandes cidades, seus grandes edifícios, sua casa real, seus grandes artistas e esportistas e principalmente o orgulho de uma história que não sempre coincide com o que se conta no exterior, são alguns dos pratos prediletos dessa imagem que enche a boca de cada cidadão em suas discussões, valorizando àquele que tem mais informação ou conhecimento ou simplesmente um dado desconhecido pelos companheiros de debate, ainda que seja na hora do lanche antes do almoço, algo tipicamente espanhol. Ao conhecer mais profundamente os costumes, a impressão de conflito e irritação que o espanhol passa se desvanece e aparece um caráter questionador e até divertido, onde se pode desenvolver boas amizades.

Essa imagem glamorosa está representada pelas famílias reais e a chamada nobreza,  originadas historicamente a partir de acordos imperialistas, concedendo territórios e riquezas a partir da opressão ao povo. O sistema político, não somente espanhol, mas também europeu, favorece e serve a essas classes engordadas pelos banqueiros, grandes empresários e políticos de muita tradição, pois não se vota no candidato e sim em uma lista elaborada por um secretário geral ou presidente de partido, onde pessoas são escolhidos para preencher os cargos sem necessariamente representar uma cidade ou sequer um bairro e muito menos estar preparado quanto a estudos ou experiência para desempenhar alguma função pública. Esses políticos podem ser eternizados em suas funções, desde que seu partido tenha maioria, chegando a ser presidente de uma região ou prefeito por 10, 20 ou mais anos.

Na outra ponta encontramos uma população obreira, bastante pobre se comparamos com a imagem de riqueza européia, submetidos a seguir os mais nobres ou simplesmente desejosos de ser nomeados para algo especial. Os artistas e esportistas, que em outros países podem alcançar a “nobreza social”, em Espanha podem chegar a ser grandes, mas se vem de classes obreiras, serão sempre considerados obreiros, ao menos que se case com um nobre.

As grandes cidades acumulam a maior parte da população, mas o coração do povo não está necessariamente onde vive, e sim de onde vem sua família e tradição. Na demografia espanhola,  95% das cidades e povoados (distritos) tem menos de 10 mil habitantes e nessas pequenas povoações está o verdadeiro coração espanhol. Daí vem sua cultura, seus costumes e principalmente sua tradição religiosa. Ainda que vivam em Madri e Barcelona, sua festa predileta (a tradição espanhola se mantém através de festas religiosas), sua comida tradicional, seu santo de devoção e seu partido político se devem mais às suas origens que à grande cidade.

Para que essa estrutura se mantenha, a religião é fundamental. As igrejas cristãs sempre representaram o Reino de Deus e tudo o que se pregava nelas se transformava na voz dos céus para os cidadãos. Ainda que o ateísmo esteja francamente em crescimento, as pessoas alimentam confortavelmente em seus corações uma forma de ateísmo pessoal vinculado a uma religiosidade cultural e supersticiosa, isto é, crêem em forças sobrenaturais, mas essencialmente não crêem no Deus dos cristãos, ainda que sigam a tradição de seu povo, o catolicismo. Em resumo, são católicos, mas se reservam ao direito de não crer no que a igreja prega e sim submeter-se a seu poder por causa da tradição e principalmente por medo supersticioso. Daí vem uma frase muito conhecida: “No creo en las brujas, pero que las hay, las hay!¨.

Eliminar a religião católica da mente de um espanhol pode significar, em seu inconsciente, que estamos tocando em uma história e estrutura social estratificada há séculos. Seria como se estivéssemos desmontando a nação (A isso poderíamos incluir o touro, o vinho, o cigarro e para muitos, os clubs de alterne, onde se encontra a prostituição). No entanto essa é uma visão historicamente implantada, especialmente porque a maior parte da tradição religiosa nacional foi reescrita ou reinterpretada pelo governo ditatorial do General Franco, quando proibia certos costumes e obrigava a outros. É como se a nação tivesse sido submetida a uma lavagem cerebral e nos últimos 30 anos está se liberando lentamente dessa opressão religioso-cultural, mas sempre protegendo seu rei e sua religião.

Quando estamos evangelizando, não é raro que nos perguntem se somos católicos ou, ao dizer que somos cristãos, em que parecemos com os católicos. Com essas perguntas estão tentando enquadrar-nos nos seus pressupostos históricos e culturais.

Como evangelizar nesse contexto? Crendo que o Senhor, em Seu poder sobrenatural e soberano, pode intervir nessa história, mudar os corações e salvar a esse querido povo.


Para isso estão os missionários, para auxiliar a igreja autóctone a se fortalecer, trabalhando muito e aguardando o tempo de Deus, como passou em países como o Brasil. 
ESPANHA: POR AQUÍ PASSOU A HUMANIDADE
Evangelizando em um contexto histórico de dor, sangue e decepção.

Magacela é um pequeno povoado com um pouco mais de 550 habitantes, situado a 15 km de nossa cidade, Don Benito, onde se podem encontrar registros pré-históricos, ruínas romanas e medievais. Há algum tempo quando levamos o pastor Carlos Del Pino e sua esposa Rosa a conhecer esse tão interessante lugar, o pastor o definiu com a frase “por aqui passou a humanidade”.

Realmente essa seria uma excelente definição não somente para nossa região, mas para a Espanha em sua totalidade. Existem registros pré-históricos na província de Cádiz, ao sul, que se reputam com um dos mais antigos do mundo, enquanto que se pode encontrar em Madri, Barcelona ou Valencia algumas das construções mais modernas do planeta.

Em Espanha somente as populações pré-históricas são consideradas realmente nativas, pois a partir de então a península ibérica passou a ser alvo de invasões, desde os povos centro europeus durante os séculos antes de Cristo, até os romanos nos primeiros séculos depois de Cristo, seguidos pelos visigodos e posteriormente pelos árabes, até a reconquista no final do século 15.

Inclusive Paulo, ainda no primeiro século, coloca a Espanha como uma meta para suas visitas missionárias e atualmente, tanto pelo clamor evangelístico como estrategicamente para alcançar o norte da África, nosso país se apresenta como um grande desafio missionário.

A esses dados históricos se acrescentam os fatores políticos imperialistas, dos quais a Espanha foi vitima e algoz, dependendo do momento histórico. América, norte da África e Filipinas são as principais vítimas dessa política espanhola, enquanto que os árabes e os centro-europeus seriam os principais adversários históricos.

Os grandes conflitos históricos espanhóis dos últimos séculos sempre estiveram na sombra das religiões, o que definiu seu caráter religioso e muito de sua cultura atual. Um espanhol típico é grato aos chamados reis católicos, que com o apoio do exterior promoveram a reconquista do território espanhol, dominado pelos árabes muçulmanos por quase 800 anos. Nesse longo período, os cristãos, que haviam sido abandonados pelo império romano, foram submetidos a uma realidade de três culturas, pois além dos muçulmanos, os judeus também se instalaram e se multiplicaram na península durante esse período.

Os reis católicos promoveram uma limpeza religiosa durante os séculos seguintes, utilizando-se da inquisição para matar ou expulsar os judeus e posteriormente os protestantes. Paralelamente invadiram a América com a cruz católica adiante, oprimindo através de uma conversão forçada aos primeiros habitantes do continente americano (sob o preço da morte ou da escravidão), criando assim um conceito claramente presente no inconsciente coletivo espanhol, de que o cristianismo é sanguinário e imperialista. Se acrescenta a esse sentimento uma ditadura cruel em meio ao século 20, que durante quarenta anos vinculou o poder político e o conceito de “espanhol legítimo” ao catolicismo, chamado de “nacional catolicismo”.

Essa história propiciou a formação de um caráter pessoal intimista, claramente demonstrado pela arquitetura cotidiana, onde as casas são desenhadas de tal forma que a área de convivência e lazer estão completamente protegidas dos vizinhos e as cafeterias ou bares são o lugar de encontro social, pois é raro que alguém convide inclusive a seus amigos a tomar um café em casa.

Mais além do protecionismo da individualidade está a decepção com cristianismo. Se por um lado se consideram católicos, como um bom espanhol, rejeitam a “igreja” e seu poder, sua mensagem, seus ritos e principalmente suas crenças, consideradas chantagistas por falar de um deus e um cristo que na verdade não passavam de um instrumento de manipulação e justificação para verdadeiros “crimes contra a humanidade”.

Em fim, quando saímos para evangelizar, nos encontramos com esses sentimentos contraditórios e como protestantes, somos considerados representantes de uma religião estrangeira.

São duros! Não creio que seja uma definição legítima sobre o espanhol, pois são acessíveis e amigos. Melhor se disséssemos que “viram coisas muito feias” ao longo da história, principalmente no cristianismo.


Com tudo isso, deveríamos concluir que ser missionário na Espanha é ser consciente de que uma mensagem deve estar acompanhada de uma vida, de um testemunho ao longo dos anos e da certeza de que o nosso Deus e pai do Senhor e Salvador Jesus Cristo intervém na história por onde passa a humanidade. 
A ESPANHA DOS POVOADOS ESQUECIDOS
Como evangelizar em um contexto de pequenas cidades

Quando um professor de nossa filha Maíra descreveu sua cidade, ficamos assombrados: 48 habitantes, com prefeitura e tudo mais.

Há alguns anos assassinaram um prefeito espanhol e a polícia encontrou rapidamente o assassino: era seu principal adversário político. O fator que mais contribuiu para solucionar o crime foi a quantidade de habitantes da cidade: 40.

95% das cidades espanholas tem menos de 10 mil habitantes, sendo mais de 80% com menos de 5.000.  As cidades entre 10 e 50 mil habitantes representam a quase totalidade dos maiores consumidores de drogas entre jovens. Com a crise econômica, a maioria das pequenas (melhor dizer pequeníssimas) cidades está entrando em colapso.

Ainda que as grandes cidades sejam o maior cartão postal da Espanha e onde vive a maior parte da população, as bases culturais e religiosas estão assentadas nas minúsculas cidades, para onde a maioria das famílias peregrina em seus feriados ou férias anuais.

Nessas cidades estão algumas das mais famosas festas regionais de cunho religioso e cultural. Muitas delas sobrevivem do turismo trazido por essas festas e a totalidade de sua população se mobiliza em massa para a realização de tais celebrações. Os estacionamentos para a imensa quantidade de carros que se dirigem à essas localidades se instalam nos arredores das cidades, porque todo o seu centro urbano está fechado para a festa.

Pelo já exposto, se pode compreender os naturais desafios para a evangelização nesses contextos. Uma quantidade pequena de população, onde todos se conhecem, sendo em muitos casos inclusive parentes, a presença de um forasteiro é amplamente identificada e sua integração intensamente dificultosa.

Em cidades voltadas para festas religiosas e culturais medievais, a presença de uma religião sem tradição espanhola causa muito incomodo e bastante rejeição. A simples pregação do evangelho provocaria reações negativas não somente quanto à fé, mas também quanto a economia da cidade e de suas famílias.

Se alia a essas dificuldades na evangelização o fato de que a maioria das missões não tem interesse em enviar missionários a pequenas cidades, especialmente porque os resultados numéricos serão praticamente inexistentes e a perseverança será a principal exigência e estratégia.

No entanto, enquanto essas regiões não forem alcançadas, a retroalimentação de um cristianismo sem Cristo e com um alto conteúdo de superstição e tradição medieval fará com que o evangelho na Espanha permaneça com características muito similares ao que se tem visto atualmente.

Temos orado por um avivamento em Espanha. Clamamos ao Senhor por algo que já vimos na história da igreja evangélica brasileira, onde se pode constatar, em uma simples viagem, dezenas de igrejas plantadas em pequenas povoações ao longo da estrada. Pedimos ao Senhor que desperte Seu povo de uma forma sobrenatural, levantando Seus escolhidos em cada pequena cidade, pois não temos visto, quanto a estratégias e investimento, um bom desenvolvimento no missionário neste contexto.


Louvamos a Deus pela visão da APMT-IPB, que tem investido em pequenas cidades espanholas, sendo um exemplo para outras igrejas e missões. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

FUTEBOL: O IMPERIO ROMANO SEMPRE ATUAL

Duas cidades de Extremadura, nossa região espanhola, escondem tesouros preciosos do antigo Império Romano. Tanto em Medellín como em Mérida, se pode encontrar teatros e anfiteatros romanos datados do primeiro século antes de Cristo, construídos pelo exército romano em seu avanço conquistador, como um símbolo da expansão cultural romana.

Ali se apresentavam os musicais, as peças teatrais e, principalmente, lutavam os gladiadores. Era a política chamada por muitos historiadores do “pão e circo”, que acalmava as multidões e facilitava o governo absurdo e ditatorial dos césares.

A Espanha fez parte direta do Império Romano, não apenas territorialmente, mas também em seu governo, contribuindo com alguns césares e conselheiros. Extremadura forneceu muitos soldados, pois seu povo era conhecido pela bravura e dedicação, algo que vemos até os dias atuais. Naturalmente, não somente as construções antigas, tombadas como relíquias arqueológicas, mas muitos outros fatores da cultura romana antiga forjaram as bases da sociedade atual.

Ainda que se diga que é uma tendência mundial, pelas semelhanças com o “pão e circo” romano, muitos tem identificado o investimento nacional espanhol no futebol como um “renascimento romano” estratégico de acalmar o povo e levar a “marca nacional” a outros territórios.

A Espanha sofreu uma das maiores quedas econômicas de sua história, com a falência mundial do setor da construção civil, e o empobrecimento do povo nos últimos quatro anos é visível, chegando aos portais da fome. O país está quebrado, no entanto, o futebol não.

A seleção espanhola de futebol está ganhando quase tudo: Eurocopa, Mundial, campeonatos europeus sub-20, sub-21, enquanto que seus clubes conquistam campeonatos europeus, mundiais, entre outros.

Esse poder do futebol tem algumas explicações. Muitos clubes medianos se enriqueceram repentinamente com a especulação da venda de terrenos privilegiados nos centros das grandes cidades, possibilitando contratar grandes jogadores. A falência da sociedade por causa da crise da construção civil não alcançou a maioria desses clubes.

Poucos sabem, mas também existiu por vários anos algumas doces vantagens no pagamento de impostos, a popularmente chamada de “Lei Beckham”, em referencia ao famoso jogador inglês, originalmente pensada para investidores estrangeiros, onde o imposto de renda era mais baixo a partir de uma determinada quantidade salarial. Isso provocou uma peregrinação de craques do futebol mundial para este país e naturalmente a transformação deste futebol na maior potencia mundial da atualidade. O campeonato nacional subiu de qualidade e seus jovens jogadores começaram a dividir o terreno de jogo com celebridades mundiais.

Voltando os olhos a décadas passadas, ainda sob o domínio da ditadura franquista, muitos acusaram àquele governo de ter utilizado o Real Madrid como propaganda política em um período onde seu esquadrão ganhou muitos títulos internacionais, segundo alguns sob a batuta da proteção e investimento da ditadura.

Atualmente existe um forte conflito entre os independentistas da Catalunha, região situada no nordeste espanhol, e o resto da Espanha. Tem sua língua própria, sua bandeira e, para não fugir à regra, seu time de futebol, o Barcelona, usado nos últimos anos, seja por políticos ou jogadores, como propaganda dos triunfos regionalistas. O futebol praticado pela atual e vitoriosa seleção espanhola tem sua base nessa equipe. Nove de seus jogadores foram convocados pela Espanha para a Copa das Confederações de 2013. As seleções de base também estão fundamentadas na preparação desse clube, que gasta milhões de euros formando pequenos craques, vários deles trazidos de outros clubes e alguns sendo até nacionalizados, inclusive brasileiros.

“Estádios suntuosos, esporte vistoso e vitorioso, povo sofredor, mas orgulhoso e feliz”.

  Essa frase bem poderia ser aplicada a muitos países, como o Brasil e Argentina, que ganharam um mundial de futebol cada um aplaudidos por seus ditadores. No caso da Argentina, ainda foi a organizadora de seu mundial. Igualmente os países da antiga cortina de ferro, que sacrificavam seus atletas para propagar o poder ditatorial e calar o povo oprimido.

Como viver como cristãos em uma sociedade acostumada a sentir-se grande através da falsa propaganda de seu “pão e circo”?

Simplesmente seguindo verdadeiramente Àquele que se mostrou ao mundo em uma cruz.

No circo romano, os gladiadores poderosos sempre venciam. Nessa mesma Roma, um “humilde gladiador” espiritual perdeu sua luta contra os poderosos, mas salvou aos que nEle crêem através de Sua morte, e morte de cruz. Esse foi o pão distribuído por Cristo: Sua própria vida.

Nossa função não é combater o futebol ou qualquer outro “circo” social. Somente deveríamos equilibrar nossas vidas olhando firmemente para Cristo, para mostrar a essa sociedade que pode desfrutar do entretenimento, mas sem se deixar enganar e nem que isso desvie seu foco na busca por solucionar os problemas cotidianos.


      “Portanto, nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe está proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à direita do trono de Deus. Considerai, pois aquele que suportou tal contradição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos canseis, desfalecendo em vossas almas.” Hebreus 12:1-3